Ilhabela

Nota sobre Ilhabela – SP

O ano de 2018 começou com esperanças renovadas num propósito de valorização da cultura indígena no Brasil para nós. O Cacique Kayrrá é indígena que passa a maior parte de sua vida fora de sua aldeia, divulgando sua cultura pelas cidades do Brasil, especialmente em São Paulo. Isto é necessário, tendo em vista que os recursos para subsistência dentro da aldeia são escassos, o que mobiliza a comunidade a escolher alguns membros representantes para desenvolver trabalhos baseados nas suas tradições e assim, arrecadar bens materiais que possibilitem sua existência.
A sobrevivência de pessoas e a continuidade de uma cultura ancestral brasileira está embutida nos trabalhos indígenas que o Cacique Kayrrá desenvolve. É preciso dar consciência quanto ao cerne destes trabalhos, do propósito maior envolvido em cada artesanato vendido, cada canção entoada, cada palestra ministrada, cada atendimento realizado. As vezes estas atividades são desempenhadas até mesmo sem a cobrança de qualquer reciprocidade material, mas com certeza, quem se beneficiou destas regalias, leva a responsabilidade de ao menos propagar a energia da ancestralidade indígena de forma positiva.
Poucas pessoas param para refletir sobre o que está por trás do indígena que vende artesanatos pelas ruas e feiras. Durante um ritual de consagração de alguma erva de poder, ou ao assistir a uma apresentação de dança e canto, é preciso que os participantes tenham a consciência além de todo aspecto espiritual ali trazido pelos indígenas, também do motivo principal da realização dessas atividades fora da aldeia, em ambiente urbano. Talvez um indígena não abandonasse seu local de origem, caso pudesse escolher estar entre sua família numa condição de auto suficiência de recursos.
Além do sofrimento inicial que pode representar afastar-se de sua aldeia e família, o indígena muitas vezes se depara com o preconceito em suas diversas formas de manifestação. Aqui queremos destacar a intolerância que os nativos enfrentam por parte das autoridades, notadamente municipais, ao se dirigir as cidades para divulgar seu trabalho em espaços públicos. Não serve o presente texto para comentar sobre o direito dos indígenas de desempenhar tal atividade, que é notório, mas sim, para manifestar apreço ao Município de Ilhabela, especialmente a Secretaria da Cultura, por proporcionar uma recepção repleta de dignidade, respeito e valorização à cultura indígena. A Sra. Celina, responsável pela Secretaria da Cultura da cidade mencionada, não mediu esforços para bem atender ao Cacique Kayrrá durante sua estadia no local à trabalho, nas duas primeiras semanas de Janeiro de 2018, prestando auxílio ao bom desenvolvimento das atividades, inclusive durante o seu período de recesso.
Assim como o desrespeito que tanto sofre o indígena em diversos locais merece denúncia, também o tratamento apropriado deve ser honrado. O Cacique Kayrrá e sua equipe parabenizam e agradecem a Secretaria da Cultura do Município de Ilhabela pela atenção, suporte e presteza. Mais do que os princípios constitucionais da Administração Pública, a cosmoética que nos leva a enxergar todo ser humano como um espelho foi nesta oportunidade amplamente considerada.